Saindo da Matrix... ou seria entrando?

Quem lê essa coluna há algum tempo já sabe que me preocupo com a centralização da web e o poder que isso coloca nas mãos de governos e grandes corporações. Sugiro assistir ao filme "Snowden: Herói ou Traidor", do diretor Oliver Stone.

O longa-metragem dramatiza a vida do ex-analista de segurança da CIA, Edward Snowden, que delatou o programa de vigilância em massa do governo dos EUA e que se encontra hoje refugiado na Rússia. Por mais que a narrativa se pareça com ficção ou teoria da conspiração, trata-se de fatos reais.

É preciso que todos estejamos atentos e vigilantes para que essa história não caia no esquecimento de forma que nossas comunicações e atividades na rede deixem de servir como fonte de controle social e econômico. Creio que uma parcela maior desta responsabilidade recaia sobre nós, profissionais de TI, que possuímos melhor capacidade de compreender a gravidade dos fatos, estando em posição mais favorável para traduzir as implicações destes para o restante das pessoas em nosso convívio social.

Depois que as revelações de Snowden vieram à tona, muitos projetos tiveram início justamente com o intuito de diminuir nossa dependência de alguns serviços que foram (ou são) utilizados para espionar nossas vidas e manter a hegemonia dos países vigentes.

Um dos maiores pontos de atenção está na forma como nos comunicamos. Há muitas iniciativas que visam servir como alternativas ao uso de serviços como WhatsApp, Hangouts e Facebook Messenger. Alguns deles encontram-se em estágios mais avançados de desenvolvimento e todos se preocupam com a criptografia das mensagens: Ring, Tox, Ricochet e Matrix são apenas alguns exemplos. Com exceção deste último, todos os outros projetos adotam uma abordagem peer-to-peer.

O Matrix, no entanto, possui uma arquitetura federada muito semelhante ao funcionamento do email, permitindo o envio de mensagens mesmo quando o usuário está momentaneamente offline. Dessa forma a conversa é atualizada assim que a conexão se reestabelece. Nela, cada usuário recebe um identificador único composto pela rede a qual seu servidor pertence e seu id nesta rede; porém, de forma invertida. Sendo assim, meu endereço no Matrix é @kemelzaidan:matrix.org.

A vantagem deste sistema é que ele pode ser vantajoso para empresas ao misturar características do email e de ferramentas mais modernas como o Slack. Ao estabelecer um serviço que propicie uma melhor comunicação interna, abre-se a possibilidade de que essa mesma infraestrutura seja utilizada também para se comunicar com clientes e fornecedores fora da corporação.

Se vai dar certo, só o tempo dirá. Por enquanto você pode me dizer o que acha criando uma conta gratuita em Riot.im e enviando uma mensagem para o meu endereço. Até lá!

Texto publicado originalmente na coluna "Post do Kemel" na revista Locaweb #66